Natal-menino
Natal é tempo de infância,
de choro - menino,
de capim no campo árido
do Seridó.
Natal é tempo de orvalho,
de bois ruminando, de galos
e girassóis.
Natal é broto
de meu Lírio da Paz,
é encontro de janelas
e luzes.
Natal é o beijo
na essência de nós mesmos.
Maria Maria
domingo, 23 de dezembro de 2007
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
terça-feira, 9 de outubro de 2007
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
domingo, 23 de setembro de 2007
Banho de leite
Minha vida é um fado. Tão romântica que
chego a me sentir em Lisboa, caminhando
pelas ruas tímidas daquele lugar (um pouco patrício).
Tenho "insights" submissos. Nem sempre, mas os tenho:
cuidar das partes íntimas da casa que me acolhe, da comida
que alimenta os entes e da cama, cujas noites solitárias
carecem desse pouco de submissão que, ainda, me resta.
Às vezes, toco fogo em meus velhos retratos de dona de casa.
O avental (que nunca me serviu), os paninhos higiênicos
(que nunca precisei usar) e aquela camisola amarrotada que
você tanto gostava e sempre me dizia, quando eu desfilava com
ela pelo quarto: "você lembra o jeito de mamãe". Passou!!!
Agora, com ou sem camisola, desfilo pelo meu quarto e o meu
companheiro (por ora inexistente) me fala sorrateiro com o
olhar: "tire a roupa, você lembra Cleópatra". E eu, envaideida,
tomo um longo banho de leite e sou deusa de mim mesma.
Maria Maria
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
FUGA
Sinto-me assim
Meio neutra
Não vou ao telhado
Nem ao jardim
Sinto-me assim:
Ora gata
Ora rosa
Ora jasmim
Sinto-me assim:
Galinha no poleiro
Silêncio no chiqueiro
Orquídea no xaxim
Por que me sinto assim?
Não sou da cidade
Não sou de Pequim
Sou um poeta ou um arlequim?
E nessa viagem
De sentir-me assim
Estou no anonimato
No meio do mato
(Estou bem aqui).
Na ponta do lápis
Escondo-me assim
Sou uma andorinha
Sou um bem-te-vi.
Maria Maria
Sinto-me assim
Meio neutra
Não vou ao telhado
Nem ao jardim
Sinto-me assim:
Ora gata
Ora rosa
Ora jasmim
Sinto-me assim:
Galinha no poleiro
Silêncio no chiqueiro
Orquídea no xaxim
Por que me sinto assim?
Não sou da cidade
Não sou de Pequim
Sou um poeta ou um arlequim?
E nessa viagem
De sentir-me assim
Estou no anonimato
No meio do mato
(Estou bem aqui).
Na ponta do lápis
Escondo-me assim
Sou uma andorinha
Sou um bem-te-vi.
Maria Maria
segunda-feira, 16 de julho de 2007
domingo, 8 de julho de 2007
sexta-feira, 29 de junho de 2007
sexta-feira, 22 de junho de 2007
sábado, 16 de junho de 2007
Elo
meu corpo- tua casa- em espera,
estado de loucura sem fim.
Por que demoras, meu peregrino?
Que estrada te deserta nesse deserto de mim?
Onde andam as esferas do nosso gozo marfim?
Vem voando, anjo aberto,
vem cá perto,
dá-me a boca feito verso
Tira esse deserto de mim.
Maria Maria
Entre a hora do encontro
e a fome de ter-te em mim,meu corpo- tua casa- em espera,
estado de loucura sem fim.
Por que demoras, meu peregrino?
Que estrada te deserta nesse deserto de mim?
Onde andam as esferas do nosso gozo marfim?
Vem voando, anjo aberto,
vem cá perto,
dá-me a boca feito verso
Tira esse deserto de mim.
Maria Maria
domingo, 3 de junho de 2007
Andorinhas
Narciso veio de longe, dos reflexos verdes, do limo. Chegou atento e altivo, pisando o ocre- pedra. Veio da semente, sem na mente dizer o que queria. Banhou-se nas colônias de lua, que hidratavam a minha pele. O sol e o canto dos pardais anunciavam a majestosa chegada. A boca do meio-dia, ainda entreaberta, esperava a voz da tarde que cheirava a bule com chá de capim-santo. O cheiro do mato orvalhado pelas gotas fugidias de chuva espalhou-se pelas veredas dos raios solares.
Entre o intermediário das dores, de mais um dia, aguardei os espelhos refletirem sobre mim numa ânsia de fome e sede enquanto os galhos da algarobeira, repleta de filhos-frutos, balançavam sob o impulso do vento.
A aragem abrasadora desfiava linhas em um tecido de solidão. Narciso apeou sobre a serra e tirou as vestes de si mesmo. Eu o vi sem manta, apenas com a musculatura que Deus lhe deu. Sua haste em repouso, exibindo o brasão, parecia à primeira vista, um pássaro no ninho. Olhei discretamente para o conjunto da obra, assim como todas as andorinhas, que por ali, sobrevoavam em busca de seu bando.
O açude de pouca água - macho poço – esperava as mãos-conchas daquele certo homem nu. Ele abaixou-se, curvando-se até alcançar as aguazinhas que desfilavam numa leve correnteza e mirou-se. Seu rosto ainda em estado de sono era lavado delicadamente e eu somente o observava, até que ele vendo-se, engoliu em seco a imagem cansada de um viandante solitário.
Aproximei-me. Usava um vestido de chita e meus pés acariciavam a terra, suavemente. Ele virou-se para mim, tirou-me a veste em pensamento e com seu jeito de negro arco-íris que costura girassóis de manhã, abraçou-me ainda em pêlo. Senti-me égua nua no meio do sertão.
Os galhos brancos do Seridó ultrapassavam as fronteiras e protegiam a plantação castigada pelo estio. Bravo algodão, desbravadoras mães férteis. Molhei-me duplamente e nessa ambigüidade, deixei que a cena iniciasse o seu primeiro ato.
As pernas do cavalheiro dos sonhos atavam-se as minhas, logo que a gruta de Vênus abria-se para a chegada do mito. As bocas salivadas, pareciam duas canoas, escorregando no leito de um imenso rio. Deixei-me navegar e os continentes de minhas formas, ainda inavegáveis, tornaram-se vias de acesso ao ponto G.
O navio adentrava, desvirginando aqueles mares. Narciso, cujo nome até então desconhecia, fazia de mim a sílfide que lhe deu a beleza e o encantamento. Contudo, não menos que de repente, o espelho partiu-se, adentrando a escuridão lamacenta daquele açude de águas temporãs.
Voltei à realidade e, como nada podia fazer, a não ser guardar na memória aquele encontro, igualei-me às andorinhas e saí voando em busca do meu bando.
Maria Maria
Narciso veio de longe, dos reflexos verdes, do limo. Chegou atento e altivo, pisando o ocre- pedra. Veio da semente, sem na mente dizer o que queria. Banhou-se nas colônias de lua, que hidratavam a minha pele. O sol e o canto dos pardais anunciavam a majestosa chegada. A boca do meio-dia, ainda entreaberta, esperava a voz da tarde que cheirava a bule com chá de capim-santo. O cheiro do mato orvalhado pelas gotas fugidias de chuva espalhou-se pelas veredas dos raios solares.
Entre o intermediário das dores, de mais um dia, aguardei os espelhos refletirem sobre mim numa ânsia de fome e sede enquanto os galhos da algarobeira, repleta de filhos-frutos, balançavam sob o impulso do vento.
A aragem abrasadora desfiava linhas em um tecido de solidão. Narciso apeou sobre a serra e tirou as vestes de si mesmo. Eu o vi sem manta, apenas com a musculatura que Deus lhe deu. Sua haste em repouso, exibindo o brasão, parecia à primeira vista, um pássaro no ninho. Olhei discretamente para o conjunto da obra, assim como todas as andorinhas, que por ali, sobrevoavam em busca de seu bando.
O açude de pouca água - macho poço – esperava as mãos-conchas daquele certo homem nu. Ele abaixou-se, curvando-se até alcançar as aguazinhas que desfilavam numa leve correnteza e mirou-se. Seu rosto ainda em estado de sono era lavado delicadamente e eu somente o observava, até que ele vendo-se, engoliu em seco a imagem cansada de um viandante solitário.
Aproximei-me. Usava um vestido de chita e meus pés acariciavam a terra, suavemente. Ele virou-se para mim, tirou-me a veste em pensamento e com seu jeito de negro arco-íris que costura girassóis de manhã, abraçou-me ainda em pêlo. Senti-me égua nua no meio do sertão.
Os galhos brancos do Seridó ultrapassavam as fronteiras e protegiam a plantação castigada pelo estio. Bravo algodão, desbravadoras mães férteis. Molhei-me duplamente e nessa ambigüidade, deixei que a cena iniciasse o seu primeiro ato.
As pernas do cavalheiro dos sonhos atavam-se as minhas, logo que a gruta de Vênus abria-se para a chegada do mito. As bocas salivadas, pareciam duas canoas, escorregando no leito de um imenso rio. Deixei-me navegar e os continentes de minhas formas, ainda inavegáveis, tornaram-se vias de acesso ao ponto G.
O navio adentrava, desvirginando aqueles mares. Narciso, cujo nome até então desconhecia, fazia de mim a sílfide que lhe deu a beleza e o encantamento. Contudo, não menos que de repente, o espelho partiu-se, adentrando a escuridão lamacenta daquele açude de águas temporãs.
Voltei à realidade e, como nada podia fazer, a não ser guardar na memória aquele encontro, igualei-me às andorinhas e saí voando em busca do meu bando.
Maria Maria
segunda-feira, 28 de maio de 2007
domingo, 20 de maio de 2007
O que eu faria?
Um vestido de chita usaria
Tecido com fios de céu e vento.
Andaria pela rua em fantasia
Sem lembrar da dor e do tormento.
Usaria sapatos brilhantes
Pés-de-asas serelepes.
Uma bolsa de cristais saltitantes
Para colher flores campestres.
Seria então cidadã da terra
Misto de mulher e menina
Ou poeta que acerta e erra
Catando um verso pra essa rima.
Seria então Maria ou Carolina
Entre tantas as que conheço:
Isabela, Anabela, Marcolina.
Simplesmente Mulher, é o que mereço.
Maria Maria
Um vestido de chita usaria
Tecido com fios de céu e vento.
Andaria pela rua em fantasia
Sem lembrar da dor e do tormento.
Usaria sapatos brilhantes
Pés-de-asas serelepes.
Uma bolsa de cristais saltitantes
Para colher flores campestres.
Seria então cidadã da terra
Misto de mulher e menina
Ou poeta que acerta e erra
Catando um verso pra essa rima.
Seria então Maria ou Carolina
Entre tantas as que conheço:
Isabela, Anabela, Marcolina.
Simplesmente Mulher, é o que mereço.
Maria Maria
quarta-feira, 2 de maio de 2007
Leito de chuva X cama de sol
Dormirei serena nesse leito de chuva até que a manhã, numa cama de sol, me saúde com cantos de rouxinol. Não importa a cor da melodia, nem o deserto que virá depois, não importa a luz, mesmo que ela me antecipe se será morno ou frio, aquele dia. Não me interessam as previsões temporais, (talvez quebre o pluviômetro) nem as notícias de que a quietude apagara as páginas de ontem. Não importa as horas mortas. O que me aflige ou que me rouba as ilusões é o desenho da fala fria de tua voz, dizendo ser natural a desilusão.
De que adianta meteoritos, estrelas cadentes se, cá dentro, ouço trovejar meu coração?Tenho medo da dor, do estrago, desse afago, de um amor mudo. Tenho medo do tudo que vive nessa palavra (amor). Queria apagar meu mundo, ou parte dele. Descanalizar o sangue quente das minhas vias, embalar-me numa rede de canção. Queria tomar o vento, senti-lo na imensidão da palavra e tornar-me marinheira de muitas viagens. Queria aportar num porto (talvez seguro, talvez!). Se possível fosse, sairia de mim, numa viagem transcendental... e a outra parte que restasse desse corpo, jaz inóspito, seria legado da terra, do chão que me viu nascer.
Contudo os desejos são idéias, não têm forma, nem retratos, nem imagens (concretas), nem virtudes e vícios. Os desejos são vazios, ocos, sem medula...
Dormirei, ainda assim, nesse leito de chuva, na mesma cama de sol, no lençol que cobriu seu pênis úmido de prazer. Deitarei sobre o colchão, meu paparazzi, lamberei o que restou de tua saliva e deslizarei a língua no esperma que seu membro deixou. Farei um show para mim mesma: tirarei as vestes vermelhas, jogarei a flor no chão, passearei a mão em mim mesma, serei orgasmo, tara, volúpia, êxtase, tesão.
Maria Maria
Dormirei serena nesse leito de chuva até que a manhã, numa cama de sol, me saúde com cantos de rouxinol. Não importa a cor da melodia, nem o deserto que virá depois, não importa a luz, mesmo que ela me antecipe se será morno ou frio, aquele dia. Não me interessam as previsões temporais, (talvez quebre o pluviômetro) nem as notícias de que a quietude apagara as páginas de ontem. Não importa as horas mortas. O que me aflige ou que me rouba as ilusões é o desenho da fala fria de tua voz, dizendo ser natural a desilusão.
De que adianta meteoritos, estrelas cadentes se, cá dentro, ouço trovejar meu coração?Tenho medo da dor, do estrago, desse afago, de um amor mudo. Tenho medo do tudo que vive nessa palavra (amor). Queria apagar meu mundo, ou parte dele. Descanalizar o sangue quente das minhas vias, embalar-me numa rede de canção. Queria tomar o vento, senti-lo na imensidão da palavra e tornar-me marinheira de muitas viagens. Queria aportar num porto (talvez seguro, talvez!). Se possível fosse, sairia de mim, numa viagem transcendental... e a outra parte que restasse desse corpo, jaz inóspito, seria legado da terra, do chão que me viu nascer.
Contudo os desejos são idéias, não têm forma, nem retratos, nem imagens (concretas), nem virtudes e vícios. Os desejos são vazios, ocos, sem medula...
Dormirei, ainda assim, nesse leito de chuva, na mesma cama de sol, no lençol que cobriu seu pênis úmido de prazer. Deitarei sobre o colchão, meu paparazzi, lamberei o que restou de tua saliva e deslizarei a língua no esperma que seu membro deixou. Farei um show para mim mesma: tirarei as vestes vermelhas, jogarei a flor no chão, passearei a mão em mim mesma, serei orgasmo, tara, volúpia, êxtase, tesão.
Maria Maria
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