Banho de leite
Para a poeta Jeanne Araújo

Minha vida é um fado. Tão romântica que
chego a me sentir em Lisboa, caminhando
pelas ruas tímidas daquele lugar (um pouco patrício).
Tenho "insights" submissos. Nem sempre, mas os tenho:
cuidar das partes íntimas da casa que me acolhe, da comida
que alimenta os entes e da cama, cujas noites solitárias
carecem desse pouco de submissão que, ainda, me resta.
Às vezes, toco fogo em meus velhos retratos de dona de casa.
O avental (que nunca me serviu), os paninhos higiênicos
(que nunca precisei usar) e aquela camisola amarrotada que
você tanto gostava e sempre me dizia, quando eu desfilava com
ela pelo quarto: "você lembra o jeito de mamãe". Passou!!!
Agora, com ou sem camisola, desfilo pelo meu quarto e o meu
companheiro (por ora inexistente) me fala sorrateiro com o
olhar: "tire a roupa, você lembra Cleópatra". E eu, envaideida,
tomo um longo banho de leite e sou deusa de mim mesma.
Maria Maria