domingo, 26 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
O gosto da infância
As minhas infâncias
têm cheiro de capim
adoçado com água de chuva.
Tem João, o doido, criando
e recriando-se nas nossas
imagens matinais.
Tem sapatos e roupas novas,
sinos na decoração da casa
e a luz do tempo natalino.
Tem também azedinhas verdes
e ardentes nas tardes em
que o tempo se finda.
Tem a indefinção solitária
da aparência temporal que
se configura em retratos subjetivos.
Tem, enfim, toda a dor e a ausência
e, perene, o verdadeiro sentido
da vida.
Maria Maria
Imagem da net
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
domingo, 31 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
sábado, 18 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Manhã
Estavas folha, esta manhã
e sorrias para meus olhos
-nada azuis-esverdeados-,
mas de caule seco.
E me dizias sereno
que a manhã
nascera para mim.
(Nem entendo muito de manhãs)
O meu tempo é de um noturno indefinível,
mas noturno.
O meu tempo é dialético
e furta-cor.
Um caleidoscópio
que só tem sol
ou uma colorida manhã
a mim desconhecida.
Maria Maria
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
sexta-feira, 30 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
domingo, 4 de julho de 2010
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Leito de chuva sobre cama de sol
Dormirei serena nesse leito de chuva até que a manhã, numa cama de sol, me saúde com cantos de rouxinol. Não importa a cor da melodia, nem o deserto que virá depois, não importa a luz, mesmo que ela me antecipe se será morno ou frio, aquele dia.
Não me interessam as previsões temporais, (talvez quebre o pluviômetro) nem as notícias de que a quietude apagara as páginas de ontem. Não importam as horas mortas. O que me aflige ou que me rouba as ilusões é o desenho da fala fria de tua voz, dizendo ser natural a desilusão.
De que adiantam meteoritos, estrelas cadentes se, cá dentro, ouço trovejar meu coração?Tenho medo da dor, do estrago, desse afago, de um amor mudo. Tenho medo do tudo que vive nessa palavra (amor). Queria apagar meu mundo, ou parte dele. Descanalizar o sangue quente das minhas vias, embalar-me numa rede de canção. Queria tomar o vento, senti-lo na imensidão da palavra e tornar-me marinheira de muitas viagens. Queria aportar num porto (talvez seguro, talvez!).
Se possível fosse, sairia de mim, numa viagem transcendental... e a outra parte que restasse desse corpo, jaz inóspito, seria legado da terra, do chão que me viu nascer. Contudo os desejos são idéias, não têm forma, nem retratos, nem imagens (concretas), nem virtudes e vícios. Os desejos são vazios. Dormirei.
Maria Maria
Foto: Eme Gomes
quinta-feira, 17 de junho de 2010
sábado, 12 de junho de 2010
terça-feira, 8 de junho de 2010
ONDE NÃO PASSA O RIO
Francisco Carvalho
O rio (dizem) passa por debaixo da ponte
mas, a bem da verdade, o rio
nem sempre passa debaixo da ponte.
Às vezes adormece à sombra das pessoas
à procura de migalhas de amor em cima da ponte.
O rio e a ponte, como todas as coisas
que se encontram em realidades opostas,
são apenas verdades relativas
que roçam pelos nossos sentidos de mamiferos
esmagados pela densidade do eterno.
Até quando me darei conta de que é preciso
rejeitar a falsa premissa de que o rio
passa por debaixo da ponte?
Onde quer que esteja, estarei defronte
dos limites ilimitados do horizonte
onde não existe rio nem ponte.
Tão bonito que veio parar no Espartilho.
Francisco Carvalho
O rio (dizem) passa por debaixo da ponte
mas, a bem da verdade, o rio
nem sempre passa debaixo da ponte.
Às vezes adormece à sombra das pessoas
à procura de migalhas de amor em cima da ponte.
O rio e a ponte, como todas as coisas
que se encontram em realidades opostas,
são apenas verdades relativas
que roçam pelos nossos sentidos de mamiferos
esmagados pela densidade do eterno.
Até quando me darei conta de que é preciso
rejeitar a falsa premissa de que o rio
passa por debaixo da ponte?
Onde quer que esteja, estarei defronte
dos limites ilimitados do horizonte
onde não existe rio nem ponte.
Tão bonito que veio parar no Espartilho.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
RUA DO BREJO
Para Uda, minha irmã
Quando te vejo,
vislumbro o horizonte:
sinto o cheiro do mato
a imponência do monte.
Serras nuas de verde:
cacto, galho, cardeiro,
reservatório de água
na colina do cruzeiro.
Cruzeiro da meninice,
da flor do mandacaru,
do leito do rio seco,
do menino que corre nu.
Crianças livres na rua,
abelhas, picadas, capins,
zigue-zague indo à lua
brincadeiras nos jardins.
Campos de flores roubadas,
de gatos e bem-te-vis,
de noites e madrugadas,
dos beijos dos Serafins.
Saudade lá do meu brejo,
da pura infância que tive,
da caatinga, do cerrado
do lugar onde nasci.
Maria Maria
Escrito em 1986
sábado, 29 de maio de 2010
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Bagagem
Trago na mala de viagem
um pouco de cinza:
na mão, um punhado
(de algodão),
um cheiro de terra
materna,
um amuleto de xelita,
um vestidinho de chita
bordado com imensidão,
trago também um baião,
amarrado na cintura,
um pouquinho de amargura
derramado pelo chão.
E se mal já fiz um dia
trago um pouco de alegria
e a certeza do perdão.
Maria Maria
sábado, 15 de maio de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
terça-feira, 4 de maio de 2010
domingo, 2 de maio de 2010
sexta-feira, 30 de abril de 2010
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Colonização
O índio fechou a toca,
a índia fez a rodilha de tapioca:
O índio disse ao Brasil
-no seu indianês-
que a nata grossa
do colonizador português
podou-nos da cultura nossa.
O índio fechou a toca
- pela última vez-
quando a índia
fez tapioca
para um holandês.
Maria Maria
Imagem da Net
Homenagem ao índio brasileiro (19 de abril), embora todos os dias sejam dias de índios.
sábado, 10 de abril de 2010
sábado, 3 de abril de 2010
quinta-feira, 4 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
Instantes de querer
Quero o minuto que se inscreve
para dizer-me.
Quero o instante que inicia,
recriando-se.
Não quero prever o amanhã
ele terá seus próprios instantes.
E então estarei livre
do tempo que se foi.
Se a vida não me permitir outros instantes
terei, ao menos, um poema escrito que diz:
__Fui eternamente feliz!.
Maria Maria
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Desalinhos
Queria desenhar o mundo
e nele, fazer-me adolescente
ou ninfa
dos Contos de Fada.
Mas meus desenhos
nem sempre seguem o Norte,
não entendo muito de direções
ou de bússolas.
Queria desenhar o mundo e não mostrar
seus efeitos colaterais: Vulcões, terremotos
e acontecimentos naturais que solidificam,
como amálgama, a doce idéia de mundo.
Mas eu posso desenhar o meu mundo
quando colaboro com a minha aldeia.
posso sim permitir que a folha da minha acácia
fique onde está.
Posso permitir que as formigas
- carregadoras de folhas-
façam o seu trajeto como um pássaro
livre no céu.
Posso desenhar um mundo
mesmo que este mundo
seja a representação
do meu universo interior.
Gildecir,
Paula
Maria Maria
Poema construído a seis mãos no encontro de Língua Portuguesa
realizado pela 9 Dired nos dias 24 e 25 de fevereiro de 2010, como parte do programa Olimpíadas de Língua Portuguesa, promovidas pelo MEC.
Tela: Lírio da Paz, por Eme Gomes
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Aurora boreal
Eu tive um tempo. Um tempo “vazio”. Não havia promessas, nem expectativas, nem sonho. Talvez poesia. Sim, poesia havia. E lembro, com certa nitidez, de um vento. Não sei bem dele, se era vento norte, sul ou estrangeiro, porém era um vento docemente sensato comigo.
Naquela época eu enfrentava leões, dragões, serpentes ou o que viesse à minha frente. Talvez fosse mais inocente e não pensasse nas conseqüências dos fatos.
Esse tempo tão livre e meu era propriedade privada e lá eu abria janelas, fechava portões, guardava as torres como a proteger-me.
Eu era muito feliz naquela estação temporal e tinha caneta, papel e imaginação.
Não cuidava do jantar e nem esperava o marido. As companhias inseparáveis e mel eram minhas asas. Sim, as asas me levavam ao relógio de Londres, aos Moinhos Holandeses e as Cataratas do Iguaçu.
Eram momentos dourados porque eu tinha 18 anos e esses eram tempos de ouro, de aurora boreal.
Maria Maria
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
sábado, 9 de janeiro de 2010
Areia do Seridó
São minúsculas as pedras
que formam a areia do rio Seridó.
Mas o vento
-soprando suave-
as levam para longe,
para além das aguas.
Que sumam vento adentro
e que rumem para um deserto
onde eu nunca possa revê-las,
porque passarei pelo rio heraclitano
e jamais serei a mesma
areia do Seridó.
Maria Maria
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