sábado, 29 de março de 2008


Morada 1

Mora em mim
um todo de toda água,
um galho de algaroba
(que navega na enxurrada),
um pingo de orvalho,
Gargalheira em gargalhada.

Maria Maria

domingo, 16 de março de 2008

Pitomba

Aquele caroço de pitomba
travou-me:

engoli o seu afã de ser sempre doce
e lambi o tom opaco de teus dedos,
refiz a textura das minhas linhas
- diagonais-
e chupei,
mordi,
senti,
degluti...

engoli o seu afã de ser sempre doce,
mas nem sempre carrego açucar em minhas veias.

Maria Maria

Foto: Lúcia Passos

sábado, 8 de março de 2008

TRIGO

Só a mulher é trigo,

só seu ventre multiplica,

por isso é eterna!

Maria Maria

quinta-feira, 6 de março de 2008


Asa

Não sei se quero falar da perda da minha asa, da plumagem que dourava no sol e do brilho que resplandecia toda manhã.
Eu vi o sertão acordar em mim, logo que o amarelo-canário apontava no horizonte e vi minhas nuances alçarem vôo num desespero sem fim. Senti meus músculos tremerem no canto oblíquo da boca e uma pequena cachoeira se formando na esquina dos meus olhos. Tudo vi, mas recuei o choro e bloqueei a palavra.
A dor vinha rasgando a estrada como faz uma acauã quando voa rasante pelos caminhos de pedra e volta furando, bicando, abrindo fendas...
Às vezes, há solidões merecidas! E há aquelas que se instalam estrangeiras e fixam moradia por tempo indeterminado. Pior ainda, são as que carregam no braço um pergaminho, contendo os itens a serem observados naquela nova estadia atemporal.
Mas o tempo não é conivente com a solidão. Ele é nômade e livre. E já está na hora de querer a minha asa de volta.


Maria Maria

quarta-feira, 5 de março de 2008


Formato de folha

Tem formato de folha
a língua que falas quando:

à pele dos meus ouvidos dizes sons
de outras línguas orientais,
à boca de minha boca me leva
aos sertões ocidentais.

Quando a língua tem formato
de folha...

Maria Maria