sexta-feira, 25 de junho de 2010


Leito de chuva sobre cama de sol


Dormirei serena nesse leito de chuva até que a manhã, numa cama de sol, me saúde com cantos de rouxinol. Não importa a cor da melodia, nem o deserto que virá depois, não importa a luz, mesmo que ela me antecipe se será morno ou frio, aquele dia.
Não me interessam as previsões temporais, (talvez quebre o pluviômetro) nem as notícias de que a quietude apagara as páginas de ontem. Não importam as horas mortas. O que me aflige ou que me rouba as ilusões é o desenho da fala fria de tua voz, dizendo ser natural a desilusão.
De que adiantam meteoritos, estrelas cadentes se, cá dentro, ouço trovejar meu coração?Tenho medo da dor, do estrago, desse afago, de um amor mudo. Tenho medo do tudo que vive nessa palavra (amor). Queria apagar meu mundo, ou parte dele. Descanalizar o sangue quente das minhas vias, embalar-me numa rede de canção. Queria tomar o vento, senti-lo na imensidão da palavra e tornar-me marinheira de muitas viagens. Queria aportar num porto (talvez seguro, talvez!).
Se possível fosse, sairia de mim, numa viagem transcendental... e a outra parte que restasse desse corpo, jaz inóspito, seria legado da terra, do chão que me viu nascer. Contudo os desejos são idéias, não têm forma, nem retratos, nem imagens (concretas), nem virtudes e vícios. Os desejos são vazios. Dormirei.


Maria Maria

Foto: Eme Gomes

2 comentários:

Unknown disse...

Maria Maria!

Texto-prosa maravilhoso. Me encontrei aqui. Desilusão nunca foi natural, e o amor....esse já não faz falta. Basta que eu me ame.

Muito bonito MESMO!

Beijos

Mirze

Minimaler disse...

parabéns pelo blog:) visite o meu em debbysilva.blogspot.com


mt bm msm:)