Cantiga para a noite nos ApertadosNa areia de um rio inocente
meus pés-meninos caminhavam.
A pele sentia o frio indecente
e o assobio do vento na madrugada.
Era tímida a noite reluzente
quando a lua refletia na alvorada
e o canto da ave persistente
ecoava nos voos da passarada.
Vi o Pe. Anchieta, pensei sozinha de repente,
Logo que um cipó descia na enxurrada,
uma folha, folhinha, semente
e uma folha no galho desgarrada.
O poeta, a poesia sente!
Disse-me o canto rouco do azulão
e na areia daquele rio inocente
ouvi as pegadas poéticas do meu coração.
A noite em minutos era displicente
e o sol me saudava com uma borboleta.
Deitou-se a última estrela cadente
e a poesia do cajado de Anchieta.
Alisei com os pés a areia-gente
e tentei aprontar a minha idéia.
A poesia voava fluentemente
como a flecha de Aquiles numa epopéia.
Não era a Grécia de Helena adolescente
nem as terras dos pássaros enamorados
nem as pedras, caminhos das serpentes.
Era o rio e a areia dos Apertados.
Maria Maria