quinta-feira, 6 de março de 2008


Asa

Não sei se quero falar da perda da minha asa, da plumagem que dourava no sol e do brilho que resplandecia toda manhã.
Eu vi o sertão acordar em mim, logo que o amarelo-canário apontava no horizonte e vi minhas nuances alçarem vôo num desespero sem fim. Senti meus músculos tremerem no canto oblíquo da boca e uma pequena cachoeira se formando na esquina dos meus olhos. Tudo vi, mas recuei o choro e bloqueei a palavra.
A dor vinha rasgando a estrada como faz uma acauã quando voa rasante pelos caminhos de pedra e volta furando, bicando, abrindo fendas...
Às vezes, há solidões merecidas! E há aquelas que se instalam estrangeiras e fixam moradia por tempo indeterminado. Pior ainda, são as que carregam no braço um pergaminho, contendo os itens a serem observados naquela nova estadia atemporal.
Mas o tempo não é conivente com a solidão. Ele é nômade e livre. E já está na hora de querer a minha asa de volta.


Maria Maria

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

Prosa poética: sertão acauã. Assim: belamente, com suas inexplicáveis "solidões merecidas". Assim: poeticamente, com suas asas de sonho e devaneio. Beijos. No Dia da Mulher.

Maria Maria disse...

Obrigada, Moacy, pelas palavras! Beijos