domingo, 23 de setembro de 2007

Banho de leite


Para a poeta Jeanne Araújo


Minha vida é um fado. Tão romântica que

chego a me sentir em Lisboa, caminhando

pelas ruas tímidas daquele lugar (um pouco patrício).

Tenho "insights" submissos. Nem sempre, mas os tenho:

cuidar das partes íntimas da casa que me acolhe, da comida

que alimenta os entes e da cama, cujas noites solitárias

carecem desse pouco de submissão que, ainda, me resta.

Às vezes, toco fogo em meus velhos retratos de dona de casa.

O avental (que nunca me serviu), os paninhos higiênicos

(que nunca precisei usar) e aquela camisola amarrotada que

você tanto gostava e sempre me dizia, quando eu desfilava com

ela pelo quarto: "você lembra o jeito de mamãe". Passou!!!

Agora, com ou sem camisola, desfilo pelo meu quarto e o meu

companheiro (por ora inexistente) me fala sorrateiro com o

olhar: "tire a roupa, você lembra Cleópatra". E eu, envaideida,

tomo um longo banho de leite e sou deusa de mim mesma.


Maria Maria

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

Oi, você merece um beijo (pelo texto), assim como merece a Jeanne (pela poesia)

Jeanne Araujo disse...

Eme, obrigada pelo carinho. Realmente somos todas mulheres brilhantes,mesmo quando somos apenas domésticas, mesmo quando estamos às voltas com nossos lares e aparentemente não brilhamos. Nosso ofício não é fácil, dizer em poesia, parir as palavras e depois refugiarmos em amor. Um bjo.