quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Desalinhos


Queria desenhar o mundo
e nele, fazer-me adolescente
ou ninfa
dos Contos de Fada.

Mas meus desenhos
nem sempre seguem o Norte,
não entendo muito de direções
ou de bússolas.

Queria desenhar o mundo e não mostrar
seus efeitos colaterais: Vulcões, terremotos
e acontecimentos naturais que solidificam,
como amálgama, a doce idéia de mundo.

Mas eu posso desenhar o meu mundo
quando colaboro com a minha aldeia.
posso sim permitir que a folha da minha acácia
fique onde está.

Posso permitir que as formigas
- carregadoras de folhas-
façam o seu trajeto como um pássaro
livre no céu.

Posso desenhar um mundo
mesmo que este mundo
seja a representação
do meu universo interior.

Gildecir,
Paula
Maria Maria

Poema construído a seis mãos no encontro de Língua Portuguesa
realizado pela 9 Dired nos dias 24 e 25 de fevereiro de 2010, como parte do programa Olimpíadas de Língua Portuguesa, promovidas pelo MEC.

Tela: Lírio da Paz, por Eme Gomes

domingo, 21 de fevereiro de 2010


Aurora boreal

Eu tive um tempo. Um tempo “vazio”. Não havia promessas, nem expectativas, nem sonho. Talvez poesia. Sim, poesia havia. E lembro, com certa nitidez, de um vento. Não sei bem dele, se era vento norte, sul ou estrangeiro, porém era um vento docemente sensato comigo.
Naquela época eu enfrentava leões, dragões, serpentes ou o que viesse à minha frente. Talvez fosse mais inocente e não pensasse nas conseqüências dos fatos.
Esse tempo tão livre e meu era propriedade privada e lá eu abria janelas, fechava portões, guardava as torres como a proteger-me.
Eu era muito feliz naquela estação temporal e tinha caneta, papel e imaginação.
Não cuidava do jantar e nem esperava o marido. As companhias inseparáveis e mel eram minhas asas. Sim, as asas me levavam ao relógio de Londres, aos Moinhos Holandeses e as Cataratas do Iguaçu.
Eram momentos dourados porque eu tinha 18 anos e esses eram tempos de ouro, de aurora boreal.

Maria Maria

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


Menina da Terra

Como terra que se compra,
fui lavrada numa manhã.

Não fazia sol e as nuvens
-sereníssimas-

e pouco afeitas a certos desafios
foram se dispersando:

Passarinhos e carneirinhos
transformaram-me numa menina-poesia.

Foi naquela manhã sem sol
às margens do Sertão do Seridó.

Maria Maria

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010


Fantasia

Meu carnaval acontece todos os dias
porque meus desejos experimentam
sempre uma nova fantasia.

Maria Maria

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010


Espelho das pedras

Deixava-me ver
pelas pedras-mosaicos
que serviam de palco
para os pirilampos.

Ali, fiz-me ninfa:

desenhei na areia
o teu corpo,
fazendo-te perfeito e humano
como um semideus desencantado.

Maria Maria

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010



Três quartos

De fora, postos à janela:
um lenço branco,
uma luva em renda,
um sinal de partida.

Em meus antigos olhos:
uma tarde rubra,
um certo espartilho,
uma lembrança.

Sobre meus fragmentos:
um pingo de tinta,
uma pena sem cor,
um poema.

Maria Maria

Foto: web