quarta-feira, 25 de março de 2009


Flor da craibeira

Nesse corpo-menina
- de longa via passada -,
de certos enleios de vida,
de fomes na madrugada,
guarda no sempre uma flor
de craibeira copada.

Maria Maria

sábado, 21 de março de 2009


Desassossego

O instante
às vezes me atormenta:

toca-me o ombro,
desembala meu sono,
acorda o parceiro
que dorme,
mexe na minha loucura,
rouba-me a solidão,
tira-me, escondido,
todos os meus sentidos.

O instante se afoga
nos fonemas da palavra.

terça-feira, 17 de março de 2009


Redemoinho

A noite silenciosa dos meus seios
chega em desalinho:
lenta,
opaca,
tímida.

Solto o verbo na escuridão
e ouço:
passos,
ventania,
redemoinho.

Maria Maria

quinta-feira, 12 de março de 2009














Cantiga para a noite nos Apertados

Na areia de um rio inocente
meus pés-meninos caminhavam.
A pele sentia o frio indecente
e o assobio do vento na madrugada.

Era tímida a noite reluzente
quando a lua refletia na alvorada
e o canto da ave persistente
ecoava nos voos da passarada.

Vi o Pe. Anchieta, pensei sozinha de repente,
Logo que um cipó descia na enxurrada,
uma folha, folhinha, semente
e uma folha no galho desgarrada.

O poeta, a poesia sente!
Disse-me o canto rouco do azulão
e na areia daquele rio inocente
ouvi as pegadas poéticas do meu coração.

A noite em minutos era displicente
e o sol me saudava com uma borboleta.
Deitou-se a última estrela cadente
e a poesia do cajado de Anchieta.

Alisei com os pés a areia-gente
e tentei aprontar a minha idéia.
A poesia voava fluentemente
como a flecha de Aquiles numa epopéia.

Não era a Grécia de Helena adolescente
nem as terras dos pássaros enamorados
nem as pedras, caminhos das serpentes.
Era o rio e a areia dos Apertados.

Maria Maria

segunda-feira, 9 de março de 2009


Tercetos

Toma meu seio, minha voz,
minha mina de amor,
meu coração, minha flor.

Meu corpo, agora,
não mais entende,
de solidão.

Maria Maria