quarta-feira, 27 de agosto de 2008


Desejo de me perder

Vou me perder essa noite.
Não quero bússolas nem rosas
dos ventos.

Terei as estrelas, os sapos
e corujas com os olhos cheios
de lua.

Carregarei na sacola
um pouco do nada ou
tudo.

Abrirei as janelas,
Sininhos poderão entrar
com as bruxas.

Vou me perder essa noite
para me encontrar ao raiar do dia
deitada sobre uma cama de girassóis.


Maria Maria

terça-feira, 19 de agosto de 2008


Pousando

Já fiz a boa ação de hoje.
Já fui cortesã por uma noite
e já fui borboleta
em pétala de girassol.

sobre o vazio
Agora não me restam mais
dedos. Eles já sucumbiram
de solidão.

Maria Maria

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

De origem Seridó

Acho que sou de pano,
de cabelo de milho,
de bagem de algaroba,
de barro do Riacho,
de semente de algodão.

Acho que sou a goteira,
a noite e a tarde de chuva,
a aurora, a madrugada. Ou
uma boneca de pano
com sachê no coração.

Maria Maria

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Foda-se o mundo e quem vive nele

Fodam-se todos!
O ódio rasga meu peito,
sobe para a mente e me domina.
A dor que eu sinto é boa, gostosa, me fascina.
Porque os políticos mandam os pobres para
guerra em vez de irem eles mesmos?
Porque as cobras são discriminadas
porque tem veneno?
E os homens
que o veneno deles está na alma
sofrida, torturada. As mortes causadas
são piores que qualquer veneno
e mesmo assim não são discriminados.
E os negros, pobres, gays não têm direitos?
Fodam-se se todos!
Foda-se o mundo!
Vivi, cresci , envelheci, morri!!!
E nunca fui feliz!!!
Que mundo patético, cheio de ilusão!
Para que viver em um mundo
onde sonhos são apenas sonhos?
Rico: mesquinho, ganha tudo
sem fazer esforço e acha
que é melhor que os outros
a ponto de pisar em todos.
Pobre: trata bem os outros,
trabalha e sabe o sofrimento
que a vida lhe traz.
Pobre quando vira rico
muda o caráter,
fica sem amigos de verdade.
Se esquece que um dia foi pobre,
vira um mesquinho.
Rico quando vira pobre
aprende a valorizar,
não só aquilo que se tem,
mas o que está ao seu redor.
Humanidade miserável!
Cada vento é um grito,
pedindo ajuda, pois o mundo
está morrendo.
Guerras, fome, a humanidade
tem o dom de causar tristeza.
Amigos? Nunca os tive,
mas consegui sendo outra pessoa.
Mas o que isso provou?
Apenas que sou fraco.
Hoje em dia, viver não é mais um desejo
e sim um sonho ruim, esperando
que um dia eu acorde e esqueça que dormi
e que um dia eu sonhei....

Artur Gomes Guirra (14 anos)

sábado, 2 de agosto de 2008


UTOPIA

Às vezes ser pedra, queria: dura, firme e opaca. Queria ser, em certas temporadas, tão seca como uma folha outonal: stric, stric, stric...! Sem nunca ter sido primavera. Há horas em que eu gostaria de ser vidro para partir-me em fragmentos e deixar-me retesada sem a força do vento, impulsionando-me à frente. Tempo há em que a alma dilacera e o corpo chora, chora mesmo, pelos poros de uma tez amadurecida. E a chuva cai! Granizos rompem telhados que impedem uma noite de amor entre os gatos. Tudo na meia estação ou em um inverno de sentimento gélido, de amores mal amados. Mas, o verão me diz que a minha palavra nua sempre será perdoada e que, com ou sem gatos no telhado, terei uma linda noite de amor com meu parceiro imaginário.

Maria Maria